quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Nec semper lilia florent lat


[Nem sempre florescem os lírios!]


Como não posso te tocar, te respiro. Entrecortada por tempestades, te propago num aroma típico que te permite continuar a existir. A saudade que flui não necessita de formas definidas perdidas num gesto, e o seu caminho não cabe nos trilhos de um decreto barrôco, sombreado por hábitos que, inesperadamente, atravesso. Sempre à espera de uma palavra tua.
Há muitas fadas e esquilos em teus telhados, enquanto o dia é um veleiro interminável nas palmas de tuas mãos. Quando mergulho em teu silêncio, não choro nunca, porque em teu silêncio não há dor, essa poeira triste que, uma vez desperta, penetra nos olhos e não nos deixa dormir. Mas entre os véus dos meus dedos, sei que flutuas e dormes. Como se sentisse frio e se encolhesse. Como se afastasse demônios e se encontrasse.
Sopro liberdade em teus ouvidos e a solidão da noite se espalha para longe, onde não estamos subordinados ao sol. Os teus jardins bebem de meus orvalhos com a mesma liberdade de escolha. As aventuras do espírito não asfixiam a vegetação dos teus olhos, maduros e justos, porque eles se impregnam de um frescor que derrama paisagens sobre mim. E quanto mais me olhas, mais mares e colinas sou, pontilhada de poemas.
E só me afasto de ti quando é chegada a minha hora. E os meus olhos, dissolvidos dos teus, reinventam Macbeth, tristemente, dando palavras mornas à dor.

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