terça-feira, 17 de novembro de 2009

Suspensa e cega

"São raras as ações, que sejam ilustres por si mesmas; dificilmente haverá algumas, que não deixem conhecer que vêm do homem. A maioria admira-se, porque não se conhece; e juntamente porque nelas há um rico véu, que as cobre: vemos um exterior brilhante, que muitas vezes serve para esconder um abismo horrendo; a mesma luz arma-se de raios, para que não possa examinar-se de onde lhe vêm os resplendores; a formosura em tudo nos atrai; a nossa admiração não pode passar além; onde a encontra, aí fica suspensa, e cega.
Isto sucede nas ações dos homens; as mais sublimes, parece que nos cegam, e suspendem; e talvez seriam detestáveis, se lhes não ignorássemos as causas. Tudo o que tem ar de grande prende a nossa imaginação de sorte, que não fica livre para discorrer na coisa, senão no estado de grandeza em que a vê, e não para indagar de onde veio, nem como veio..."
[Matias Aires, in 'Reflexões Sobre a Vaidade dos Homens"]
"Se o objeto que se apresenta nada tiver em si que nos surpreenda, não somos emocionados por ele e consideramo-lo sem paixão!"
[René Descartes]

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