"Cada época, como cada idade da vida, tem o seu secreto e indizível e injustificável sentido de equilíbrio. Por ele sabemos o que está certo e errado, sensato e ridículo. E isto não é só visível no que é produto da emotividade. É visível mesmo na manifestação mais neutral como uma notícia ou um anúncio de jornal. Donde nasce esse equilíbrio? Que é que o constitui? O destrói? Porque é que não se rebentava a rir com os anúncios de há cento e tal anos? Mas a razão deve ser a mesma por que não se rebentou a rir com a moda que há anos usamos, os livros ridículos que nos entusiasmaram, as anedotas com que rimos e de que devíamos apenas rir... O homem é, no corpo como no espírito, um equilíbrio de tensões. Só que as do espírito, mais do que as do corpo, se reorganizam com mais frequência. Equilibrado o espírito, mete-se-lhe uma ideia nova. Se não é expulsa, há nela a verdade. Porque a verdade é isso: a inclusão de seja o que for no nosso mecanismo sem que lhe rebente as estruturas. Ou: a coerência de seja o que for com o nosso equilíbrio espiritual. Há um nível etário para a mesma verdade nos existir. Não é em si que as verdades envelhecem: é com as rugas que temos no rosto e na alma."
Vergílio Ferreira
Bonjour!
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