segunda-feira, 24 de maio de 2010

Liverpool

[Beatles-young]
"Recordar-se não é o mesmo que lembrar-se... e não são de maneira nenhuma idênticos. A gente pode muito bem lembrar-se de um evento, rememorá-lo com todos os pormenores, sem por isso dele ter a recordação. A memória não é mais do que uma condição transitória da recordação: ela permite ao vivido que se apresente para consagrar a recordação. Esta distinção torna-se manifesta ao exame das diversas idades da vida. 
O velho perde a memória, que geralmente é de todas as faculdades a primeira a desaparecer. No entanto, o velho tem algo de poeta... a imaginação popular vê no velho um profeta animado pelo espírito divino. Mas a recordação é a sua melhor força, a consolação que os sustenta, porque lhe dá a visão distante, a visão de poeta. 
O moço, ao contrário, possui a memória em alto grau, usa dela com facilidade, mas falta-lhe o mínimo dom de se recordar. Em vez de dizer: «aprendido na mocidade, conservado na velhice», poderíamos propor: «memória na mocidade, recordação na velhice»...
[Beatles- Glasses]
Os óculos dos velhos são graduados para ver ao perto, mas o moço que tem de usar óculos, usa-os para ver ao longe, porque lhe falta o poder da recordação, que tem por efeito afastar, distanciar...
A recordação tem por fim evitar as soluções de continuidade na vida humana e dar ao homem a certeza de que a sua passagem pela terra efetua 'uno tenore', num só traço, num 'soporo', e pode exprimir-se na unidade. Assim se liberta ela da necessidade em que a língua se encontra de repassar incessantemente pelas mesmas tagarelices, para reproduzir aquelas de que a vida se encontra repleta..." 
[Soren Kierkegaard, in "O Banquete"]

[George-Paul-Ringo-John]
A condição da imortalidade do homem é que a vida dele decorra 'uno tenore'!
Bonjour!

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