quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Distorções que infelicitam

Os imaturos têm como traço comum a intolerância e a inconseqüência naquilo que fazem. Não aceitam alternativas, opiniões e soluções em que não levem vantagem. Mentem para atingirem objetivos e para fugirem as responsabilidades. As idéias que têm lhes infundem uma autoconfiança e impertinência que agravam seu desajustamento. O prazer de sua auto-estima está solidamente alicerçado no poder, na liderança ou mesmo no pequeno comando de sua gang. Sem essas posições, o seu desconforto social é muito grande, fazendo-os praticar certos jogos de provocação, vitimando e constrangendo os que convivem com eles. Haverá sempre o risco de que um aspecto do seu caráter se mostre surpreendentemente fraco em momentos cruciais. Tem a visão estreita, que conduz à teimosia, à intolerância, ao autoritarismo irracional, grosseiro e a outros males. A estas pessoas cabe ser ensinado a começar o seu treinamento a partir de observações muito simples: "as diferenças" entre as pessoas. E só então irão aprender a ouvir a opinião alheia, a respeitar seu próximo, a prestar atenção no que lhe dizem, a dispor de ponderação, de discernimento e de uma visão mais humana e profunda das coisas, o que evitará os julgamentos desnecessários e os acessos de raiva infundados, infantís e destrutivos.


As pessoas maduras agregam, não cometem falta anti-social; sabem fazer uso com inteligência dos seus pensamentos, têm opiniões que conciliam vários aspectos de uma questão; não são excessivas, não são impulsivas, não mentem "por educação", pois mentira não se justifica- mentira é mentira-, não fazem críticas violentas, não constrangem, não denigrem o próximo e nem estabelecem polêmicas; argumentam com tranquilidade e nunca estão ociosas- fazem as coisas em tempo e a todo tempo, com interesse e sem alarde; sabem comandar sem desrespeitar ou expor os subordinados; são amigas das pessoas de modo claro e sincero e honram os vínculos estabelecidos com elas. Tornam-se, por isso, alguém com quem todos possam conversar e conviver em harmonia. Têm temperamento amável, como se fossem felizes por serem do modo que são e seu agir é sua maior fonte de prazer.

Rubem Queiroz Cobra -Formação comportamental

Bonjour!

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Filosofia do tempo

A "existência" do homem é algo temporário, paira entre o seu nascimento e a morte, que ele não pode evitar. Sua vida está entre o passado (em suas experiências) e o futuro, sobre o qual ele não tem controle, e onde seu projeto será sempre incompleto diante da morte inevitável. Como uma filosofia do tempo, o existencialismo exorta o homem a existir inteiramente "aqui" e "agora", para aceitar sua intensa realidade humana do momento presente. O passado representa arquivos de experiências a serem usadas a serviço do presente, e o futuro não é outra coisa que visões e ilusões para dar ao nosso presente direção e propósito.
Não podemos nos submeter a condicionamentos de nosso passado; não podemos permitir que sentimentos, memórias, ou hábitos se imponham sobre nosso presente e determinem seu conteúdo e qualidade. Nós também não podemos permitir que a ansiedade sobre os eventos futuros ocupem nosso presente, tirem sua espontaneidade e intensidade. Não podemos permitir que o nosso aqui e agora seja liquidado. 
Heidegger

Bonjour!

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A caserna, o moínho e o bazar

A nossa personalidade deve ser indevassável, mesmo por nós próprios: daí o nosso dever de sonharmos sempre, e incluirmo-nos nos nossos sonhos, para que não nos seja possível ter opiniões a nosso respeito. E especialmente devemos evitar a invasão da nossa personalidade pelos outros. Todo o interesse alheio por nós é uma indelicadeza ímpar. O que desloca a vulgar saudação - "como estás?" - de ser uma indesculpável grosseria, é ela ser, em geral, oca e insincera. 
Fernando Pessoa, in 'Livro do Desassossego' 
Bonjour!

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Despe-te dos ruídos

Nada nos foi dito na aula de descer abismos...
Susana Marques Santos

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Obrigada pelos 29 mil mergulhos!

As folhas, diante dos olhos, eram uma parede branca de palavras escritas que eram uma lonjura de lâminas, e  o meu corpo, a minha cara, os meus olhos, entravam nessas palavras, afundavam-se nessas palavras, que me cortavam a pele e que desapareciam dentro da carne, abrindo caminhos de sangue que me atravessavam... 
Palavras escritas a crescerem da terra, campos que eram uma lonjura de lâminas, palavras ou lâminas a avançarem rente aos ossos... como letras que fossem machados invencíveis...
José Luís Peixoto 
OBRIGADA, DOCE ILHA!

A tingir-se de tempo

As manhãs envolviam a terra de névoa repetida, que era a maneira mais sólida de existirem...
Não imaginavam o fim do mundo, porque não imaginavam o fim das manhãs...
José Luís Peixoto

Bonjour!

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Love Jeordie White


Tudo o que é humano abandona o seu rosto.
Jim Morrison





quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O sonâmbulo visionário

Image: Arthur Koestler
Há uma ligação muito estreita entre a adoração da ação e o uso do homem como meio de atingir fins que não são o homem. Uma ligação aproximada entre este desespero e a ação, entre a razão e a ação. E que na impossibilidade de agir segundo um fim, ou de agir para ser homem, ele decide agir de qualquer maneira, apenas para agir. O homem de ação é um desesperado que procura preencher o vazio do seu próprio desespero com atos ligados mecanicamente uns aos outros e compreendidos entre um ponto de início e um ponto de conclusão, ambos gratuitos e convencionais. Por exemplo, entre o ponto de início da fabricação dum automóvel e o ponto de conclusão dessa fabricação. O homem de ação suspenderá o seu desespero enquanto durar a fabricação do veículo; suspendê-lo-á precisamente porque no seu espírito fica suspensa qualquer finalidade verdadeiramente humana: sente-se meio entre os outros homens, meio como ele. Concluída a máquina, ele encontrar-se-á mais inerte e exânime que a própria máquina.
Alberto Morávia, in "O homem como fim"
Bonjour!

Nota: Arthur Koestler  alternou toda sua vida entre o homem de ação e o homem de letras. Nascido em Budapeste, em 1905, se tornou jornalista e no começo dos anos 50 era talvez o mais amplamente lido romancista político da época, passando a ter um grande número de seguidores entre os jovens. Foi indicado em três ocasiões para o Prêmio Nobel. Arthur Koestler faleceu em 1983. Defensor da eutanásia e sofrendo do Mal de Parkinson e de uma leucemia incurável, Koestler suicidou-se, juntamente com sua esposa à época, Cyntia Jefferies, doando seus bens a uma fundação destinada a pesquisas parapsicológicas .


terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Suave à memória...

Marilyn and Arthur Miller

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
                E sem desassossegos grandes.
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque mesmo se os tivesse 
O rio sempre correria e sempre iria ter ao mar.
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e caricias,
Mas que vale mais estarmos sentados ao pé um do outro
                Ouvindo correr o rio e vendo-o...
Colhamos flores, 
pega tu nelas e deixa- as no colo, 
e que o seu perfume suavize o momento —
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
                Pagãos inocentes da decadência.
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
                Nem fomos mais do que crianças.
E se, antes do que eu, levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim — à beira-rio,
                Pagã triste e com flores no regaço.

Odes de Ricardo Reis / 12-6-1914

Bonjour!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Um amor que esquece o mundo

Alain Delon and Romy Schneider

Só se é realmente leal quando se está sujeito a algo ou alguém. Aí, onde mesmo um sonho pode ser senhor. Na sujeição de quem serve uma causa, na sujeição de quem se submete a um chefe, na sujeição à pessoa amada, na sujeição do sentimento e na sujeição do dever, no sacrifício da liberdade, da razão e do interesse. No desperdício e no desprezo do que está à vista e do que está à mão, é nesta desagradável situação que se acha, ou não, a lealdade. É por ser selvagem e servil, mas só a um senhor, que a lealdade tem valor. Ao escolher um amigo, e ao ser-se amigo dele, rejeitam-se as outras pessoas. Quando estamos apaixonados, é através dessa pessoa que amamos a humanidade. O amor ocupa-nos muito. E para os outros, não resta quase nada. É muito difícil ser-se leal, mas só porque é muito difícil seguirmos o coração. A lealdade é um amor que esquece o mundo. 
Miguel Esteves Cardoso

Bonjour!

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Queremos ser estimados pelas pessoas que estimamos

Enquanto pude julgar favoravelmente os homens, ou pelo menos certos homens, os juízos que eles faziam a meu respeito não me podiam ser indiferentes. Via que os juízos do público são muitas vezes justos; mas não via que essa justiça resultava do acaso, pois as regras sobre as quais os homens fundamentam as suas opiniões são extraídas apenas das suas paixões ou dos seus preconceitos e que, mesmo quando ajuizam bem, é frequente que esses bons juízos nasçam de um mau princípio. Assim como acontece quando fingem honrar o mérito de um homem, não por espírito de justiça, mas para se dar "ares de imparcialidade", ao mesmo tempo que caluniam à vontade esse homem...
Compreendi que os meus contemporâneos eram, em relação a mim, nada mais do que seres mecânicos que não agiam senão levados pelo impulso e cuja ação eu só podia calcular pelas leis do movimento. Fosse qual fosse a intenção, a paixão que eu tivesse admitido existir nas suas almas, jamais teriam explicado a sua conduta para comigo. Foi por isso que as suas disposições interiores passaram a não significar nada para mim; passei a não ver neles mais do que massas que se movimentam, desprovidas, a meu respeito, de qualquer moralidade. 
Jean-Jacques Rousseau

Bonjour!

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O amor não rende juros

Nos países humanos, o amor mistura-se muito com palavras equívocas... O amor é útil internamente, mas externamente não carrega um tijolo. Amor é amor, não um equívoco. Antes fosse como o fogo numa lareira, que é um fogo servil, cultural, educado. Uma coisa vermelha mas mansa, que nos obedece.
Gonçalo M. Tavares, in "Uma Viagem à Índia" 
Bonjour!

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Pelo lado que desce

É falta de educação calar um idiota e crueldade deixá-lo prosseguir...
Benjamim Franklin

Guia do labirinto

Aquele que te entretém com os defeitos dos outros, entretém os outros com os teus.
Denis Diderot

Não há soluções... há caminhos!

Qualquer coisa tem duas asas: uma que nos permite que a levemos conosco, a outra que tal intenção não nos facilita. Se o teu irmão tem mau feitio, não o chames a ti levando a mão à asa que se manifesta de modo errado. Por aí, é-te impossível levar a bom termo o teu propósito. Toma-o antes pela asa boa, pela mão que não se recusa à tua...
Epicteto
Bonjour!