terça-feira, 12 de abril de 2011

A faca não corta o fogo

"A faca não corta o fogo, não me corta o sangue escrito, não corta a água, e quem não queria uma língua dentro da própria língua? eu sim queria, jogando linho com dedos, conjugando onde os verbos não conjugam..."
"Cada imagem é a chave de outra imagem – e elas abrem-se umas às outras», pois «tudo são chaves para abrir tudo», «A chave entra na fechadura, a porta abre-se sobre nova porta», já que atrás de um assombro «há outro assombro. / Passos apressados dentro das próprias 
almas."
"Um homem vive uma profunda eternidade que se fecha sobre ele, mas onde o corpo arde para além de qualquer símbolo, sem alma e puro como um sacrifício antigo."

Vladislav Erko- cards

"Ponho o ouvido à escuta de encontro ao mundo: 
ouço-me para dentro..."
Herberto Helder 

Em 1994, Herberto Helder fez saber que não receberia o Prêmio Pessoa (e nenhum outro):
"Até parece, sr. director, que estou a especializar-me no género epistolográfico. Há assuntos que convém resolver epistolograficamente. O Pen Club arranjou um prémio que arranjou um júri que arranjou um autor. Tudo na voz activa, excepto o autor, passivamente apanhado no meio dos arranjos. Esta cartinha é para desarranjar. O autor sou eu, e o prémio caiu-me, na tarde dos jornais, em cima da cabeça. Peço-lhe que me ajude a removê-lo. Não imagina o gasto que me faz - em ânimo, tempo e selos - a correria das cartas. Se o sr. director tiver a bondade da publicação de agora, prometo-lhe que é para sempre. Fica definitivo que não receberei nunca as homenagens, os prémios, qualquer distinção. Talvez assim os outros poupem em solicitude, eu poupo em dactilografia e o "JL" em espaço. Não estou."
Herberto Hélder

Bonjour!

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