domingo, 29 de julho de 2012

Uma coisa em forma de assim


Fazer qualquer coisa ao contrário do que todos fazem é quase tão mau como fazer qualquer coisa porque todos a fazem. E só ri de uma coisa quem está distante dela. Aqui está, implícita, uma tragédia: habituamo-nos a uma coisa afastando-nos dela, quer dizer, perdendo o interesse. Têm sentido de humor os que têm sentido prático. Os que esquecem. Ou se distanciam. Mas, como nem tudo pode ser vivido, ou esquecido, resta sempre, mesmo aos mais experimentados, o sentimento de qualquer coisa. Sem sequer sabermos o que essa coisa é. 


Obrigada pelos 62 mil mergulhos :)
Bonjour ilha.


quarta-feira, 25 de julho de 2012

Demasiado Humano


 Duo cum faciunt idem, non est idem...

 (quando duas pessoas fazem o mesmo, não é o mesmo).

Arthur Schopenhauer 

a cair nos braços

brincávamos a cair nos braços um do outro, como faziam as actrizes nos filmes com o marlon brando, e depois suspirávamos e ríamos sem saber que habituávamos o coração à dor. queríamos o amor um pelo outro sem hesitações, como se a desgraça nos servisse bem e, a ver filmes, achávamos que o peito era todo em movimento e não sabíamos que a vida podia parar um dia. eu ainda te disse que me doíam os braços e que, mesmo sendo o rapaz, o cansaço chegava e instalava-se no meu poço de medo. tu rias e caías uma e outra vez à espera de acreditares apenas no que fosse mais imediato, quando os filmes acabavam, quando percebíamos que o mundo era feito de distância e tanto tempo vazio, tu ficavas muito feminina e abandonada e eu sofria mais ainda com isso. estavas tão diferente de mim como se já tivesses partido e eu fosse apenas um local esquecido sem significado maior no teu caminho. tu dizias que se morrêssemos juntos entraríamos juntos no paraíso e querias culpar-me por ser triste de outro modo, um modo mais perene, lento, covarde. amava-te e julgava bem que amar era afeiçoar o corpo ao perigo. caía eu nos teus braços, fazias um bigode no teu rosto como se fosses o marlon brando. eu, que te descobria como se descobrem fantasias no inferno, não queria ser beijado pelo marlon brando e entrava numa combustão modesta que, às batidas do meu coração, iluminava o meu rosto como lâmpada falhando 


a minha mãe dizia-me, valter tem cuidado, não brinques assim, vais partir uma perna, vais partir a cabeça, vais partir o coração. e estava certa, foi tudo verdade 


valter hugo mãe, in 'contabilidade'



A memória é um sótão atravancado de objetos inúteis e de 'todas as músicas', onde tanto desejaríamos encontrar aquelas coisas perdidas que – de tão perdidas – já nem sabemos mais...


Bonjour!

Mário Quintana

terça-feira, 24 de julho de 2012

La parola non è questo.


Niente esprime i nostri pensieri tanto prontamente quanto le parole. Niente rende il pensiero possibile quanto le parole. Si è detto che un’immagine vale mille parole. 
Se da un lato è vero che le parole sono necessarie per dire il significato dei segni, dall’altro non è così vero che i segni siano necessari per dire il significato delle parole.


Buongiorno!

segunda-feira, 23 de julho de 2012

As pessoas que nos habitam


São as pessoas como tu que fazem com que o nada queira dizer-nos algo, as coisas vulgares se tornem importantes e as preocupações maiores sejam de facto pequenas. São as pessoas como tu que dão outra dimensão aos dias, transformando a chuva e fazendo do inverno uma estação de rosas rubras. As pessoas como tu possuem não uma, mas todas as vidas. Pessoas que amam e se entregam porque amar é também partilhar as mãos e o corpo. Pessoas que nos escutam e nos beijam e sabem transformar o cansaço numa esperança aliciante, tocando-nos o rosto com dedos de água pura, soltando-nos os cabelos com a leveza do pássaro ou a firmeza da flecha. São as pessoas como tu que nos respiram e nos fazem inspirar com elas o azul que há no dorso das manhãs, e nos estendem os braços e nos apertam até sentirmos o coração transformar o peito numa música infinita. São as pessoas como tu que não nos pedem nada mas têm sempre tudo para dar, e que fazem de nós nem ícaros nem prisioneiros, mas homens e mulheres com a estatura da vida... São as pessoas como tu que, interrogando-nos, se interrogam, e encontram a resposta para todas as perguntas nos nossos olhos e no nosso coração.
Bonjour!


Joaquim Pessoa


domingo, 22 de julho de 2012

Monashki













Uma série de fotos incríveis sobre a vida das freiras. Animadas, divertidas e destemidas. Difícil de imaginar mas elas são pessoas como você e eu. Hmmm, quase isso, pode acreditar, hahaha... 
Bonjour!!!


sábado, 21 de julho de 2012

Ludo Street Art

Ibiscus


Birmingham
The Grapes of Wrath

French artist Ludo has been active on the streets for a few years now. His art is characterised with grey, white and his already famous acid green trademark. With his Nature’s Revenge theme it is like he is trying to get nature back in today’s hectic world. Images of, for example, butterflies, flowers, insects and vegetables with modern objects and techniques popping out. Pretty amazing! With his paste-ups he always goes large on billboards, walls or wooden boards, and is quite picky when it becomes to choosing his spot. If ever you see one of his works, it will without any doubt make you say ‘Wow’.

Wild Cherry Flowers- Amsterdam
Londres
New York
New York
Zurich
Many humans attracting the most attention are considered pests by insects. It includes those that are parasitic, transmit diseases, damage structures, or destroy agricultural goods.

Belgiun
Poland

cactus needle
gun flowers
cherry coke
Benetton

Never stop because you are afraid - you are never so likely to be wrong. 
Fridtjof  Nansen

Bonjour LUDO!

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Viver é um enorme entretanto...



É nas decisões fúteis, das quais nem a vida nem o estado de espírito depende, que reside a felicidade. Somos sobressaltados por ninharias, que conseguem fazer-se passar por importantes, como escolher entre uma camisa do verde do mar ou do azul do céu... Se a escolha primária é entre continuar a viver e deixar de viver, e as escolhas secundárias são afluentes da primeira, devemos dar graças. Quanto mais tempo perdermos nas escolhas e nas questões de que não dependem as nossas vidas ou as nossas almas - naquelas que não interessam, a bem ver, nem a umas nem a outras - maior é a nossa felicidade. As pessoas, sejam de que sexo e sexualidade forem, compreendem-se mal. Dão-se mal, por muito bem que se dêem. O luxo é não escolher. A felicidade é uma interrupção de futilidade. A felicidade é uma falta de importância.

Bonjour.

Miguel Esteves Cardoso 

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Olhar demorado de inverno

O sol a iluminar os olhos dos gatos espalhados na sala, sentados, deitados de olhos abertos. O sol a iluminar o sofá grande, o vermelho ruço debaixo de uma cobertura de pêlo dos gatos. O sol a chegar à escrivaninha e a ser dia nas folhas brancas. Escrevi duas páginas. Descrevi-lhe o rosto, os olhos, os lábios, a pele, os cabelos... 'Descreveu-me' o corpo, os seios sob o vestido, o ventre sob o vestido, as pernas... Descrevi-lhe o silêncio. E, quando me parecia que as palavras eram poucas para tanta e tanta beleza, fechava os olhos e parava-me a olhá-la. Ao seu esplendor seguia-se a vontade de a descrever e, de cada vez que repetia este exercício, conseguia escrever duas palavras ou, no máximo, uma frase. Quando a manhã apareceu na janela, levantei-me e voltei para a cama. Adormeci a olhá-la. Adormeci com ela dentro de mim.

José Luís Peixoto 


Bheijos. Bonjour.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Um Certo Grau de Vida


A vida realmente transforma o que éramos e nos faz ser apenas o que somos...

O conhecimento que a maioria das pessoas tem de si mesmo é aquele que lhes é descrito pelos outros. É uma espécie de espelho que lhes diz 'como e quem são'.

Aprendi a não tentar convencer ninguém. O trabalho de convencer é como uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro.

Bonjour!

sábado, 14 de julho de 2012

A metros, a quilómetros, em hemisférios distintos



Mesmo havendo palavras, é difícil dizer aquilo que se quer dizer. A voz fica presa na garganta ou antes da garganta. Não vamos cometer esse erro. Vocês foram chegando devagar, foram entrando e quero que saibam que, hoje, são parte da minha família. Penso em vocês entre aquilo que me é mais valioso e, sem explicação, sinto saudades vossas de repente. Muitas vezes, sinto o toque do sol, tão suave, e sorrio ao lembrar-me que vou partilhar esse bem-estar convosco. Sinto-me muito grato pela companhia que me fazem. Convosco, nunca estou sozinho.

Os dias têm horas, minutos, e eu existo em todos eles. Não vejo o mundo apenas a partir das montras das livrarias ou das pequenas fotografias que acompanham estas crónicas, como se tudo estivesse controlado. Sou uma pessoa, Zé Luís, e só muito raramente está tudo controlado. Há vezes, como agora, em que estou num quarto qualquer. Um quarto onde, depois de hoje, nunca mais voltarei. Os meus filhos, a minha mãe, as minhas irmãs estão a milhares de quilómetros, o terreiro das Galveias está a milhares de quilómetros. A distância faz de mim um menino perdido. Há muitos mais exemplos, claro, o coração a bater contra algo que o aperta. Então, vocês chegam e cobrem-me com a força de me desejarem tanto bem. Vocês protegem-me com pensamentos que atravessam oceanos. Comovem-me com esse bem-querer. Obrigado por, entre tantas possibilidades, terem escolhido a mais bondosa. Vocês constroem-me. Devo-vos a pessoa que sou.

E não importa se estivemos no mesmo lugar apenas por um instante há cinco anos atrás, não importa se nunca estivemos no mesmo lugar, aquilo que realmente importa é o segredo luminoso que partilhamos. Não é feito de palavras, mas é transportado por elas. Esse é o nosso lugar, temos almas a vaguear nesse universo de sentido. Vocês mostram-me todo os dias que a generosidade pode salvar. Vocês têm muitos rostos, muitas histórias. Eu ouço-vos e encho-me de esperança humana, de amor humano, e transbordo.
Mesmo quando estou em silêncio, agradeço-vos por me acrescentarem um sentido tão profundo. Estar-vos grato é estar grato ao mundo inteiro, ao fácil e ao difícil. (...) Fomos capazes de existir sobrepostos e, por mais ou menos tempo, partilhámos a experiência partilhável. Se amanhã tudo se desfizer, saberemos que nos tocámos e espero que, perante o fim, sejamos capazes de nos sentir gratos pelo que tivemos e que é bastante mais do que a maioria das pessoas alguma vez chega a ter.


quinta-feira, 12 de julho de 2012

Kings and Queens

Antigamente as pessoas queriam criar-se uma reputação: isso já não basta, a feira tornou-se demasiado vasta; agora é necessário vender aos berros. A consequência é que mesmo as melhores gargantas forçam a voz e as melhores mercadorias não são oferecidas por orgãos enrouquecidos; já não há génios, nos nossos dias, sem clamor e sem rouquidão. Época vil para o pensador: devemos aprender a encontrar entre duas barulheiras o silêncio de que se tem necessidade e a fingir de surdo até chegar a sê-lo. Se possível, mudo também. 
 Bonjour! 
 Friedrich Nietzsche

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Anatomy of strangers










'A work of art is a confession.' – Albert Camus 


From street art to classicism, from Schiele’s surgery to the nervousness of Guy Denning, joyfully mixing figurative and abstract lines, drawn or painted, monochrome, colored, the works of British Joseph Loughborough (Portsmouth, 1981) seem to concentrate on a same space the diversity of Man. Shades, celebrated or hushed up and that all, though, strive for a same horizon: their decomposition. 


Bonjour Joseph!