domingo, 21 de outubro de 2012

Afinidades eternas

Para fazer as pazes é preciso haver uma guerra. Mas, quando não há uma guerra ou só a suspeita, de haver uma ameaça, ou uma desatenção se tornar um hábito, da paz que encanta e apaixona, as pazes ficam feitas e celebra-se essa felicidade. É a necessidade de se achar que se é diferente - nos afetos, nas necessidades - que provoca todos os mal-entendidos e a maior parte das infelicidades. Muito ganharíamos - se perdêssemos só o que temos de perder e amargar -, se partíssemos do princípio que somos todos iguais, homens e mulheres, eu e tu, eles e nós. As guerras imaginadas são mil vezes melhores do que as verdadeiras. A ilusão da diferença (de tudo o mais que arranjamos para chegar à ficção vaidosa que 'cada um é como é') passou a ser o que apreciamos ser a nossa nociva e dispensável individualidade. É o pouco que nos diferencia e distancia, por muito caro que nos saia, que consegue o divino milagre de tornarmo-nos mais atraentes uns aos outros. Não é possível cortar para sempre com tudo o que nos liga a pessoas que pensam verdadeiramente como nós. Acabamos sempre por voltar a estar de acordo nalgum ponto.


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