"Aprender a ver - habituar os olhos à calma, à paciência, ao deixar-que-as-coisas-se-aproximem-de-nós, aprender a adiar o juízo, a rodear e a abarcar os fatos a partir de todos os lados. Este é o primeiro ensino preliminar ao espírito: não reagir imediatamente a um estímulo, mas sim controlar os instintos que põem obstáculos, que isolam... Aprender a ver, tal como eu o entendo, denomina vontade forte: o essencial nisto é, precisamente, o poder 'não querer', o poder diferir a decisão. Toda a não-espiritualidade, toda a vulgaridade descansa na incapacidade de opor resistência a um estímulo — 'tem que se reagir', seguem-se todos os impulsos. Em muitos casos 'esse ter que reagir' é já doença, decadência, sintoma de esgotamento, — quase tudo o que a rudeza designa como 'vício' é apenas essa incapacidade fisiológica de não reagir... Ao estranho, ao novo de qualquer espécie, deixar-se-á aproximar-se com uma tranquilidade hostil, — afasta-se dele a mão.
O ter 'abertas todas as portas', o servil abrir a boca perante todo o fato pequeno, o estar sempre disposto a meter-se, a lançar-se de um salto para dentro de outros homens e outras coisas, em suma, a famosa 'objectividade moderna' é mau gosto... é algo não-aristocrático par excellence."

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