A ironia é uma das qualidades de espírito mais agradáveis e mais perigosas: agrada sempre quando é delicada; mas receamos sempre aqueles que a usam demasiado. No entanto, o gracejo pode permitir-se, quando não é acompanhado de malícia, e quando fazemos participar nele as próprias pessoas de quem falamos. É difícil ter um espirito sarcástico sem fingir alegria ou sem se ser trocista; é necessário muito acerto para se ser irónico sem cair num destes extremos. A ironia é uma lufada de alegria que enche a imaginação e lhe faz ver em caricatura os objetos à sua volta; o humor adiciona-lhe mais ou menos doçura ou azedume...
Um belo espírito pensa sempre nobremente; produz com facilidade coisas claras, agradáveis e naturais; torna visíveis os seus aspectos mais favoráveis, e enfeita-os com os ornamentos que melhor lhes convêm; compreende o gosto dos outros e suprime dos seus pensamentos tudo o que é inútil ou lhe possa desagradar. Um espírito reto, fácil e insinuante sabe evitar e ultrapassar as dificuldades; adapta-se facilmente a tudo o que quer; sabe conhecer e acompanhar o espirito e o humor daqueles com quem priva e ao preocupar-se com os interesses dos amigos, faz progredir e firmar os seus.
No entanto, o maior mérito destas espécies, é o de agradar na conversação. Mas todas estas qualidades não impedem, por vezes, que o espírito pareça pequeno e fraco quando o humor o domina.
La Rochefoucauld
Bonjour!
Nenhum comentário:
Postar um comentário