Por preguiça, nesses anos, eu raramente (nunca) cortava fatias de pão com a faca. Abria a porta do armário, abria a caixa do pão, segurava o pão e, com os dedos, arrancava um pedaço que, posteriormente, barrava com margarina vegetal, planta. Eu tirava sempre um pouco de côdea, gostava e gosto muito de côdea, mas o pão ficava com formas inusitadas que desagradavam à minha mãe. Não sei bem qual a razão etimológica, mas nessa altura, eu não dizia “um pedaço de pão”, não dizia sequer “um naco de pão”, dizia “um fanaco de pão”.
Dessa forma, se tivesse encontrado a minha irmã no quintal, acho que era Primavera, acho que era de tarde, teria dito “vou comer um fanaco de pão com planta”. E foi mesmo isso que fiz. Já não me recordo do momento exato em que mastiguei esse pão específico, mas recordo-me de outras vezes e sei, mesmo bem, que sempre foi um prazer imenso estar cheio de (esganado com) fome e comer um pedaço (fanaco) de pão cheio de margarina vegetal (planta) mal espalhada.
José Luís Peixoto / Celine
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