Seu nome era Hans Hoekendijk que se pronuncia “rukendaik”. Lembrando-me dele tenho saudades do tempo em que eu fumava cachimbo. O cachimbo é uma amizade fiel e vagarosa. Ele era meu colega. Reuníamos-nos à sua volta para ouvir suas histórias. Tínhamos um rádio clandestino... De noite acompanhávamos as notícias do “front” de batalha. As forças aliadas haviam desembarcado na Normandia e avançavam rapidamente na direção do campo em que estávamos presos. Fazíamos os cálculos. Avançando naquele ritmo dentro de poucos dias estaríamos livres! Foi quando o comandante do campo nos reuniu a todos no pátio."Antes que cheguem as tropas todos vocês serão enforcados!" Eu tive a maior experiência de liberdade de toda a minha vida. Se vou morrer dentro de dois dias e não há nada que eu possa fazer para evitar a morte, eu sou completamente livre para fazer e dizer o que quiser, pois nada pior que a morte poderá me acontecer.
O medo se foi… Olhei então para aquele guarda alemão, metralhadora a tiracolo, bruto e sem compaixão, que sempre me amedrontara. Agora eu posso ir até ele e dizer tudo o que penso e sinto a seu respeito. Que me pode fazer? Dar-me uma rajada de metralhadora? Melhor morrer assim que morrer enforcado. E aquela mulher - eu sempre a amei de longe, só com meus olhos. Ah! Os olhos… Os prisioneiros também amam e sonham… Eu nunca havia me aproximado dela. Iríamos morrer. Não, não se tratava de um convite à infidelidade. Diante da morte a infidelidade não existe. E nos abraçamos. Mas aí nós não fomos enforcados. As tropas aliadas nos libertaram. Voltei, então, à vida normal... voltei a ter medo e perdi minha liberdade.
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