quarta-feira, 16 de maio de 2012

A infância da língua

O menino pegou um olhar de pássaro - contraiu visão fontana. Por forma que ele enxergava as coisas por igual, como os pássaros enxergam. As coisas todas inominadas... Água não era ainda a palavra água. Pedra não era ainda a palavra pedra. E tal. As palavras eram livres de gramáticas e podiam ficar em qualquer posição. Por forma que o menino podia inaugurar. Podia dar às pedras costumes de flor.

E com o seu olhar furado de nascentes
O menino podia ver até a cor das vogais -
como o poeta Rimbaud viu...
Contou que viu a tarde latejar de andorinhas.
E viu a garça pousada na solidão de uma pedra.
E viu outro lagarto que lambia o lado azul 
do silêncio.


Bonsoir!

Manoel de Barros- “Poemas Rupestres”

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