sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Fragmentos

Cores e som encorajam a experimentação e promovem a flexibilidade no processo de aprendizagem. Não se dão bem com atitudes rígidas nem com a compartimentação da experiência humana. O pensamento não aceita limites vindos de fora, cerceadores de sua própria atividade. O exercício de uma profissão inventiva exige indivíduos acostumados à diversidade, donos de uma visão articulada, policêntrica e possibilista. Sem cair, necessariamente, naquele espírito iconoclástico das primeiras vanguardas, pois alguém pode ser absolutamente moderno, embora seu pensamento tenha raízes lá atrás, em Rabelais ou em La Boétie, na França do século XVI.
Criativa foi a vida de Chaplin, no cinema, a de Thomas Edson, em sua oficina de inventor, a de Madame Curie, nas pesquisas científicas, a de Leonardo da Vinci, nas ciências e na pintura, a de Isadora Duncan, na dança, a de Gaudí, na arquitetura, a de Mozart, na música, ou Sarah Bernhardt, como atriz. Sem imaginação não teríamos os quadros pintados por Cézanne, nem o teatro moderno de Beckett. Os valores do espírito, em grande parte, se distinguem por esse critério: maior ou menor capacidade imaginativa. No entanto, muito intelectual moderno ainda subestima a imaginação. Quanto à fantasia, muita gente nem sabe o que é.
Lógica e método científico não excluem o sentimento e a sensação, ao contrário, fazem parte das sínteses que o pensamento contém. A razão é apenas uma parte da consciência. Breton dizia que o jogo livre e ilimitado das analogias é a chave para se escapar das prisões mentais: a intuição passa a ter um valor semelhante ao piano de Duke Ellington. São formas de conhecimento de planos da realidade que chamamos de supra-sensíveis. Bachelar escreveu sobre as relações entre a ciência e o imaginário. Max Milner, mais recentemente, também. E a História da Arte, a História da Literatura e a História das Religiões só podem ser estudadas assim.
Também não há nada mais pacífico, na sua cor verde, do que uma planta. No entanto, sua capacidade de síntese é revolucionária... sem a fotossíntese, feita por um silêncio artístico pelas plantas, não haveria vida na Terra, como a conhecemos hoje. Nenhum animal. Nenhum ser humano. Exemplo de simplicidade e enígma, exemplo de criatividade e luz no universo.
[ Da obra: Jazz em Jerusalém, de Victor Leonardi]

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