segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Obrigada pelos 9.000 mergulhos!

"Vemos muito bem que as coisas não se alojam em nós com a sua forma e essência, e não penetram em nós pela sua própria força e autoridade; porque, se assim fosse, recebê-las-íamos do mesmo modo: o vinho seria o mesmo na boca do doente e na boca do homem são. Quem tem os dedos gretados, ou quem os tem entorpecidos, encontraria na lança ou na espada que maneja uma rigidez semelhante à que o outro encontra. Os objetos externos rendem-se então à nossa mercê; alojam-se em nós como nos apraz. Ora, se da nossa parte recebêssemos alguma coisa sem alteração, se as faculdades humanas fossem bastante capazes e firmes para apreender a verdade pelos nossos próprios meios, esses meios sendo comuns a todos os homens, essa verdade se transmitiria de mão em mão de um para outro...
E pelo menos se encontraria uma coisa no mundo, entre tantas que há, que seria acreditada pelos homens por um consenso universal. Mas o fato de não se ver proposição alguma que não seja debatida e controversa entre nós, mostra bem que o nosso julgamento natural não apreende muito claramente aquilo que apreende; pois o meu julgamento não pode fazer com que isso seja aceite pelo julgamento do meu companheiro, o que é um sinal de que o apreendi por algum outro meio que não um poder natural que exista em mim e em todos os homens.
Quão diversamente não julgamos nós as coisas? Quantas vezes mudamos as nossas opiniões? O que hoje afirmo e acredito, afirmo-o e acredito-o com toda a minha convicção; todos os meus instrumentos e todos os meus recursos empunham essa opinião e respondem-me por ela em tudo que podem. Eu não poderia abraçar verdade alguma, nem preservá-la com mais força, do que faço com esta. Estou nela por inteiro, estou nela verdadeiramente; porém acaso não me ocorreu, não uma vez mas cem, mas mil, e todos os dias, de ter com esses mesmos instrumentos, nessa mesma condição, abraçado alguma outra coisa que depois julguei falsa?
Precisamos pelo menos nos tornar sábios
às nossas próprias custas.."
[Michel de Montaigne]
Bonjour mes amis, lumière de mes jours!!! :)

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