Difícil explicar, mas você não ve mais direito nem as coisas nem as pessoas que estão à sua volta. Você vai acostumando com elas, assim como acostuma com uma cadeira, uma mesa, um fogão... Quando tudo começa a ficar igual todos os dias e você, sem perceber, começa a se movimentar como quem liga o automático, feito robô, apenas faz coisas, sem sentir o que está fazendo. (...) Acho que aquilo que é bom, e de verdade, e forte, e importante – coisa ou pessoa – na sua vida, não se perde. E aí lembro de Guimarães Rosa, quando dizia que “o que tem de ser, tem muita força”. Você tem que fazer um super-exercício para conseguir descobrir os jeitos particulares das pessoas se comunicarem – sim, porque tudo tem um jeitinho particular. (...) Mas a maioria das pessoas que conheço vive muito desatenta de estar vivendo: elas parecem tão acostumadas com as coisas que estão à sua volta, que é como se estivessem dormindo.
Caio Fernando Abreu - Pedra rolante
Bonjour março!