quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O Cinismo dos Valores

Todo esforço, qualquer que seja o fim para que tenda, sofre, ao manifestar-se, os desvios que a vida lhe impõe; torna-se outro esforço, serve outros fins, consuma por vezes o mesmo contrário do que pretendera realizar. Se quero empregar meus esforços para conseguir uma fortuna, poderei de certo modo consegui-la; o fim é baixo, como todos os fins quantitativos, pessoais ou não, e é atingível e verificável. Mas como hei-de efetuar o intento de servir minha pátria, alargar a cultura humana, ou melhorar a humanidade? Nem posso ter a certeza dos processos nem a verificação dos fins. 

Ah! mas a humanidade acaba por encontrar o seu verdadeiro caminho — dizem-me duas células ingénuas do entendimento. Num mundo que almoça valores, janta valores, ceia valores, e os degrada cinicamente, sem qualquer estremecimento da consciência? Não, o homem não tem caminhos ideais e caminhos de ocasião. O homem tem os caminhos que anda. Peçam-me tudo, menos que tape os olhos, bem basta quando a terra nos cobrir!
Fernando Pessoa - Miguel Torga

Obrigada pelos 63.000 mergulhos!!!

Bonjour ilhados!

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