
[Arte de Fernando Bonafé]
Clausuro o sopro metálico em ouvidos fantasmas e desço degraus de clarins colhendo amêndoas e séculos.
Pantagruel soltando folhas pelas janelas, inunda de outono os jardins de Rabelais, enquanto Desdêmona, agoniada,
varre espinhos de um Otelo sem flor.
Nas praças do mercado, Godiva folheia as páginas de seu cavalo, que entoa cânticos aos Rasputins.
Lampiões prematuros apagam dezembros de Mozart, retorcendo flautas mágicas, réquiens e aquatofanas, num funeral triste e inacabado, aplaudido apenas por um cordial cachorro.
E enquanto pontes se levantam para dar passagem às barcas e fadigas,
passa-se, invisível, a vida!
(SK)
passa-se, invisível, a vida!
(SK)