terça-feira, 23 de março de 2010

The same old vices

"Aprender a ver - habituar os olhos à calma, à paciência, ao 'deixar-que-as-coisas-se-aproximem-de-nós'; aprender a adiar o juízo, a rodear e a abarcar o caso a partir de todos os lados. Este é o primeiro ensino preliminar para o espírito: não reagir imediatamente a um estímulo, mas sim controlar os instintos que põem obstáculos, que isolam. Aprender a ver, tal como eu o entendo, é o que o modo afilosófico de falar denomina 'vontade forte': o essencial nisto é, precisamente, o poder não «querer», o poder diferir a decisão. Toda a não-espiritualidade, toda a vulgaridade descansa na incapacidade de opor resistência a um estímulo — 'tem que se reagir', seguem-se todos os impulsos. Em muitos casos, esse 'ter que', já é uma doença, decadência, sintoma de esgotamento, — e quase tudo o que a rudeza afilosófica designa com o nome de «vício» é apenas essa incapacidade fisiológica de não reagir. Uma aplicação prática do ter-aprendido-a-ver, em geral, chegará lento, desconfiado, teimoso... Ao estranho, ao novo de qualquer espécie, deixará aproximar-se com uma tranquilidade hostil, — afasta-se dele a mão. O ter abertas todas as portas, o servil abrir a boca perante todo o fato pequeno, o estar sempre disposto a meter-se, a lançar-se de um salto para dentro de outros homens e outras coisas mais, em suma, a famosa 'objetividade moderna' é de mau gosto e não-aristocrática par excellence... "
[Friedrich Nietzsche]

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