Há uma ligação muito estreita entre a adoração da ação e o uso do homem como meio de atingir fins que não são o homem. Uma ligação aproximada entre este desespero e a ação, entre a razão e a ação. E que na impossibilidade de agir segundo um fim, ou de agir para ser homem, ele decide agir de qualquer maneira, apenas para agir. O homem de ação é um desesperado que procura preencher o vazio do seu próprio desespero com atos ligados mecanicamente uns aos outros e compreendidos entre um ponto de início e um ponto de conclusão, ambos gratuitos e convencionais. Por exemplo, entre o ponto de início da fabricação dum automóvel e o ponto de conclusão dessa fabricação. O homem de ação suspenderá o seu desespero enquanto durar a fabricação do veículo; suspendê-lo-á precisamente porque no seu espírito fica suspensa qualquer finalidade verdadeiramente humana: sente-se meio entre os outros homens, meio como ele. Concluída a máquina, ele encontrar-se-á mais inerte e exânime que a própria máquina.
Alberto Morávia, in "O homem como fim"
Bonjour!
Nota: Arthur Koestler alternou toda sua vida entre o homem de ação e o homem de letras. Nascido em Budapeste, em 1905, se tornou jornalista e no começo dos anos 50 era talvez o mais amplamente lido romancista político da época, passando a ter um grande número de seguidores entre os jovens. Foi indicado em três ocasiões para o Prêmio Nobel. Arthur Koestler faleceu em 1983. Defensor da eutanásia e sofrendo do Mal de Parkinson e de uma leucemia incurável, Koestler suicidou-se, juntamente com sua esposa à época, Cyntia Jefferies, doando seus bens a uma fundação destinada a pesquisas parapsicológicas .
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