terça-feira, 26 de abril de 2011

Fomes humanas


Temos fome de estímulo (necessidade do organismo de ser estimulado), fome de reconhecimento, (necessidade de ser percebido), fome de contato (física, verbal), fome de estrutura (necessidade de organizar o tempo, não só o presente como a médio e longo prazo), fome de incidentes (necessidade de acontecimentos que quebrem a monotonia) e fome sexual (entrega afetiva). O homem é sobretudo um ser social e não sobrevive sem contato. Os indivíduos têm apetites diferentes em relação a cada uma de suas necessidades ou fomes. Uma pessoa que tenha grande 'fome de contato' e acaba trabalhando em uma atividade na qual fica 'em silêncio e isolada' a maior parte do tempo, pode tentar compensar esta carência com atividades sexuais constantes ou jogos que envolvam contato físico. 
Quando não conseguimos obter carícias positivas podemos nos contentar até mesmo com as carícias negativas acreditando que é melhor receber algum tipo de reconhecimento do que ficar fadado à indiferença. Aceitar carícias negativas é como beber água poluída pois a necessidade extrema faz com que desconsideremos as qualidades prejudiciais da mesma. 
Vivemos em uma sociedade na qual os adultos estão constantemente com carência de carícias positivas que por sua vez são negadas também para as crianças. Como se as carícias positivas fossem algo finito, como se o amor acabasse, os indivíduos negam o prazer da doação com medo de ficar sem.


Marco Aurélio Mendes

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Quando o escriba do castelo era eu- de Victor Leonardi

"Nessa geração oculta, que hoje toma a frente do cenário literário brasileiro, alguns nomes, já nem novos - mas novíssimos no que representam -começam a se impor". Entre os nomes citados, José Castello colocou o de Victor Leonardi e o livro Quando o escriba do castelo era eu. Segundo ele, os livros delineiam um momento em que a literatura brasileira dá um grande salto, não só de qualidade mas, sobretudo, de atrevimento.(...) A literatura se converte, assim, em uma espécie de mundo alternativo, ou virtual, que vem preencher as lacunas do mundo real. Boas mentiras, que completam a insuficiência da verdade (...). Há, em todo caso, a redescoberta de uma utopia de fraternidade (...). Essa tensa relação com o mundo é um sinal, promissor, de que a realidade volta a interessar os escritores. Eles já não desejam, porém, a pose dos retratistas, ou a simplificação dos sentimentais. Em vez disso, buscam e fazem uma escrita que venha ferir o real, como alguém que, durante a noite, se pusesse a sacudir um sujeito que dorme. Esse sujeito é a literatura.
José Castello ao citar Victor Leonardi e o livro Quando o escriba do castelo era eu.


terça-feira, 19 de abril de 2011

O amor faz o bobo!

Cultiva-se a má fé com o profissionalismo do jardineiro que cria uma planta venenosa cujo veneno possui suavidades tão profundas que quem o prova - contaminado- já não passa sem ele.
Georges Picard

Wasting my times...
Bonjour!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Os espelhos dos armários nos contém


 Olhou em torno de si: não viu senão a si mesmo...

Brihadaranyaka Upanishad
Brad Bowers-model
Existem várias solidões esparsas, e os que aquí habitam estão 'tão distantes entre si' que não é possível propagar nada de um lado a outro...

Cícero

Bonjour!

terça-feira, 12 de abril de 2011

A arte de Dou!

Bambi
Cheburashka
Zorro
Ronald
Pinóchio
Batman
Mickey
Vasya
Masha


Russian artist Oleg Duryagin (aka Dou) won the Professional Photographer of the Year in Fine Art award at the International Photography Awards. Toystory, captures little children as toys. The children are so white and lifeless, they look like marble-skinned vampire children.

Bonsoir Moscow, bonsoir Dou!


I Love Tara Dougans

 Tara Dougans é minha designer/ilustradora favorita. De origem canadense, Tara vive e trabalha atualmente em Londres, onde num mundo todo tecnológico, seus trabalhos são todos feitos inteiramente à mão, usando apenas lápis e tinta. Fez, recentemente, uma série de desenhos intitulada “Boys will be boys”, baseada em coleções outono/inverno de estilistas como Alexander McQueen, Raf Simons e Ann Demeleumeester. Lauren Bacall, Cyd Charisse, Elizabeth I, são algumas de suas outras influências. 






I would love one of these originals... Bonjour Tara!

A faca não corta o fogo

"A faca não corta o fogo, não me corta o sangue escrito, não corta a água, e quem não queria uma língua dentro da própria língua? eu sim queria, jogando linho com dedos, conjugando onde os verbos não conjugam..."
"Cada imagem é a chave de outra imagem – e elas abrem-se umas às outras», pois «tudo são chaves para abrir tudo», «A chave entra na fechadura, a porta abre-se sobre nova porta», já que atrás de um assombro «há outro assombro. / Passos apressados dentro das próprias 
almas."
"Um homem vive uma profunda eternidade que se fecha sobre ele, mas onde o corpo arde para além de qualquer símbolo, sem alma e puro como um sacrifício antigo."

Vladislav Erko- cards

"Ponho o ouvido à escuta de encontro ao mundo: 
ouço-me para dentro..."
Herberto Helder 

Em 1994, Herberto Helder fez saber que não receberia o Prêmio Pessoa (e nenhum outro):
"Até parece, sr. director, que estou a especializar-me no género epistolográfico. Há assuntos que convém resolver epistolograficamente. O Pen Club arranjou um prémio que arranjou um júri que arranjou um autor. Tudo na voz activa, excepto o autor, passivamente apanhado no meio dos arranjos. Esta cartinha é para desarranjar. O autor sou eu, e o prémio caiu-me, na tarde dos jornais, em cima da cabeça. Peço-lhe que me ajude a removê-lo. Não imagina o gasto que me faz - em ânimo, tempo e selos - a correria das cartas. Se o sr. director tiver a bondade da publicação de agora, prometo-lhe que é para sempre. Fica definitivo que não receberei nunca as homenagens, os prémios, qualquer distinção. Talvez assim os outros poupem em solicitude, eu poupo em dactilografia e o "JL" em espaço. Não estou."
Herberto Hélder

Bonjour!

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Olhos confessos


Hannah Holman
"A loucura não é uma questão de conteúdos, mas de intensidades. Basta observar nosso mundo contemporâneo, dominado pelos excessos. Bens preciosos como a comida, o sexo, a aventura, os esportes, o amor à beleza _ que nos mantêm vivos e nos tornam humanos _, quando experimentados sem o zelo das proporções, nos envenenam, adoecem, enlouquecem."


"Sem pompas, sem luzes, sem os mantos da consagração ou do sucesso, só um homem que respira. Um homem que busca palavras em que se agarrar. Um escritor a seco. Magro, tenso, insatisfeito, faminto. Todo escritor tem uma fome insaciável de palavras. Não escreve para matar a fome, mas para encará-la. Não escreve para se esconder, ou para se enobrecer, mas para se desnudar."
José Castello

Bonjour!

domingo, 10 de abril de 2011

Duas e Dez

Minhas primeiras palavras foram: "duas e dez". Ainda de fraldas, ganhei um relógio de pulso. Sempre que me perguntavam as horas, não importando a hora verdadeira, eu respondia: "duas e dez". Eram as minhas horas. Nelas, eu começava a existir. Dessas primeiras e estranhas palavras, eu nasci. 
De onde tirei esse horário? Nasci de um mistério que se chama "duas e dez".
José Castello 

Garras que não se desgrudam

Livros saem uns dos outros e esses laços de sangue configuram o "estilo"... 


"Uma das primeiras dificuldades quando estou preparando-me para escrever algo é saber se esse novo texto poderá ou não adaptar-se à minha "maneira". A ideia sozinha, por melhor que pareça, não basta para justificar um relato". Não basta ter uma boa ideia _ é preciso que ela corresponda a um sentimento interior. Não basta projetar um grande livro: melhores são os pequenos livros que, apesar de discretos, se adaptam à "maneira" de quem o escreve. 
É uma luta corajosa desses grandes escritores que tem como projeto deliberado se tornar, a cada novo livro, "um novo escritor". Ainda assim, vestígios singulares, marcas quase invisíveis, se repetem livro a livro. Feridas de que um escritor não se livra. Garras de que ele não se desgruda. Chega então o momento em que o escritor, mesmo a contragosto, deve aceitar: "Isso sou eu". 
Juan José Saer

A escrita para nos acordar

"Escrever é a melhor maneira de pensar. Quando escrevemos, o pensamento perde a arrogância e se deixa guiar pelo que desconhece. Escrever, portanto, é pensar no escuro."

"Não: a literatura não expressa um desejo de se comunicar. O leitor, quando entra em um livro, é um ladrão... A literatura é, ao contrário, o desejo de se isolar."

"Não lemos um livro para concordar com ele, mas para que ele nos atinja o peito, como uma bala. Para que nos transpasse, sacuda e sangre." 

"As certezas congelam, e a literatura, que é um choque, acorda." 

"É bom ler Cícero, não para reverenciá-lo, mas para dele discordar. Para usá-lo _ como fazem os corredores das maratonas _ como um energético. Nem mesmo os filósofos possuem a chave da verdade. A verdade é um cofre lacrado para sempre. Não existe chave capaz de abri-lo. Ler, em consequência, é desconfiar. É ler para reler, distorcer, relembrar, discordar, interrogar. Em outras palavras: cada leitor é o único dono do livro que tem nas mãos e faz com ele o que bem quiser."
José Castello

Bonjour José!

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Brasileirinhos

A imitação é natural ao homem desde a infância, e nisto difere dos outros animais, pois que ele é o mais imitador de todos, aprende as primeiras coisas por meio da imitação, e todos se deleitam com as imitações. É prova disto o que acontece a respeito dos artífices, porque nós contemplamos com prazer as imagens mais exatas dos mesmos objetos para qual olhamos com repugnância; por exemplo, a representação de animais ferocíssimos e de cadáveres. E a razão disto é porque "o aprender" é coisa que muito apraz, não só aos filósofos mas também igualmente aos demais homens, posto que estes sejam menos instruídos. Os homens que tinham mais gravidade e elevação imitavam as ações boas e a fortuna dos bons; e os que eram de gênio ruím imitavam as ações dos maus. Por isso se alegram de ver as imagens, pois que, olhando para elas, podem aprender e discorrer o que uma delas é e dizer: isto é tal coisa; porque, se suceder que alguém não tenha visto o original, não recebe, então, o prazer da imitação.
Aristóteles
Qual é a eterna condição das tragédias? A existência de ideias, cujo valor é considerado mais alto do que o da vida humana. E qual é a condição das guerras? A mesma coisa. 


Você, ontem, foi para o inferno como um péssimo imitador, 
atirador!
Bonjour a todos os brasileirinhos!

quarta-feira, 6 de abril de 2011

A arder de versos contados

A natureza, quando dá gênio, dá forças, tempo e coragem para vencer todos os obstáculos que o não deixem desabrochar. Não há malogrados. O único argumento a favor da sua existência é a idade. Ora na idade de malogrados morreram Keats, Cesário e Rafael... Construir uma vida e uma obra parece ter sido sempre a façanha dos grandes. E se Goethe precisou de oitenta anos para se cumprir, Shelley pediu um prazo mais curto à natureza. O que tinha a dizer, disse mais depressa... 
Miguel Torga, (1945)


A pedra que sustenta a ponte

Um bom espírito vê todas as coisas como devem ser vistas Há uma diferença entre um espírito útil e um espírito prático: há pessoas hábeis em tudo o que não lhes diz respeito, e muito desastradas em tudo o que lhes respeita. Podemos ter no conjunto um ar sério e dizer por vezes coisas agradáveis e divertidas; esta espécie de espírito convém a toda a gente e em todas as idades da vida. Os jovens têm vulgarmente um espírito divertido e trocista, mas sem seriedade, o que por vezes os tornam incômodos. Nada é mais difícil do que querer agradar sempre, e os aplausos que muitas vezes recebemos por divertir os outros não justificam que nos arrisquemos à vergonha de os aborrecer quando estão de mau humor.


A ironia é uma das qualidades de espírito mais agradáveis e mais perigosas: agrada sempre quando é delicada; mas receamos sempre aqueles que a usam demasiado. No entanto, o gracejo pode permitir-se, quando não é acompanhado de malícia, e quando fazemos participar nele as próprias pessoas de quem falamos. É difícil ter um espirito sarcástico sem fingir alegria ou sem se ser trocista; é necessário muito acerto para se ser irónico sem cair num destes extremos. A ironia é uma lufada de alegria que enche a imaginação e lhe faz ver em caricatura os objetos à sua volta; o humor adiciona-lhe mais ou menos doçura ou azedume...


Um belo espírito pensa sempre nobremente; produz com facilidade coisas claras, agradáveis e naturais; torna visíveis os seus aspectos mais favoráveis, e enfeita-os com os ornamentos que melhor lhes convêm; compreende o gosto dos outros e suprime dos seus pensamentos tudo o que é inútil ou lhe possa desagradar. Um espírito reto, fácil e insinuante sabe evitar e ultrapassar as dificuldades; adapta-se facilmente a tudo o que quer; sabe conhecer e acompanhar o espirito e o humor daqueles com quem priva e ao preocupar-se com os interesses dos amigos, faz progredir e firmar os seus. 


No entanto, o maior mérito destas espécies, é o de agradar na conversação. Mas todas estas qualidades não impedem, por vezes, que o espírito pareça pequeno e fraco quando o humor o domina. 


La Rochefoucauld

Bonjour!


terça-feira, 5 de abril de 2011

Atravessados por um dardo

Julie London
A saudade tem muitos aromas, sai dos frascos de perfumes, das chuvas, das plantas, das comidas e das coisas mal resolvidas!
Bonjour!


segunda-feira, 4 de abril de 2011

Um gesto sem amanhã

A vanguarda viu as coisas diferentemente: estava possuída pela ambição de estar em harmonia com o futuro. Os artistas de vanguarda criaram obras, corajosas é verdade, difíceis, provocatórias... mas criaram-nas com a certeza de que o «espírito do tempo» estava com eles e que, amanhã, lhes daria razão. Porque o futuro é sempre mais forte que o presente. É ele, de fato, que nos julgará. E certamente sem qualquer competência. 
Milan Kundera- 
O futuro não é garantia de competência

Uma mancha sem formato

Amo-te desta maneira porque não conheço qualquer outra forma de amar sem ser esta, onde não existe eu ou tu... 
tão intimamente que a tua mão sobre o meu peito é a minha mão, 
tão intimamente que quando adormeço os teus olhos fecham-se. 
Neruda


Bonjour ilha!

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