quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Vidas breves, mortes súbitas

[Photo de Jamies Nelson]

Cães e meninos, mendigos e palavras, pássaros que voam, pessoas que vêem os pássaros, pessoas que distraem-se da longa espera pelo ônibus vendo desenhos nas nuvens. Desenhos de pássaros, cães, coelhos e dragões. Desenhos de outras pessoas. Nuvens e pássaros, pessoas e latinhas, cães e muros, carros e esperas, asfalto e céu, árvores e pássaros, nuvens e ônibus, livros malditos e cães de arquelau, mendigos e sonhos... Os carros, a rua, a passarela, o muro cinzento, a Vila do João, o castelo mourisco e todas as pessoas e animais e coisas já não existiam como tais, mas tinham virado pontos, pequenos pontos de partida e destino para as retas, curvas e elipses que se interceptavam. Ele estava parado, imóvel, e tudo passava por ele e continuava passando. Aos poucos, já ele mesmo não se sentia imóvel: ele também passava, enquanto tudo o mais passava... Ele colidia com as coisas, tornando-se também retas e curvas de seu próprio esquema, e as coisas o atravessavam, e ele atravessava todas as coisas, e desse atravessar simultâneo novas coisas surgiam, duravam frações ínfimas de tempo e voltavam à não-existência. Viu vidas breves e mortes súbitas...
Poema de Caco Xavier
Bonjour!

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