terça-feira, 2 de novembro de 2010

O amor não cabe em Polaroid

"A menina tinha um amigo. Ele era bastante culto, inteligente, não era triste, falava, sorria e, quando sorria, não economizava risos. Apesar de maduro, era um menino, tinha sonhos, sabia de abraços e beijos, e conhecia todos os brinquedos. Era um menino de que todos se lembravam porque era muito querido e também tinha recordações alegres de todos. Era às vezes quieto, introspectivo, silencioso, mas nunca imperceptível. Sempre entendeu de alegrias e de felicidades, mas nunca experimentou o amor de páginas de livros. O menino só sabia ler histórias e poemas para sí mesmo, porque nunca lhe haviam escrito essas coisas ou lhe dito que haviam outros jeitos.
Um dia, depois de não o ter visto durante muitos anos, a menina subiu até a casa da montanha e finalmente o viu. Era uma tarde bastante carioca, dessas que chovia e fazia sol, que tornaram-se mais do que amigos. Ele olhava para ela com os olhos cada vez mais atentos e admirados. Ela lhe sorria, contava histórias, sonhava junto, lhe dava abraços e beijos, trazia comida, dava de beber, lembrava dele e de cada palavra que ele tinha dito e lhe pedia que se lembrasse para sempre dela. Ele então podia ser um pouco parte do que ela era e daquilo tudo que nunca pudera ser. Um dia o menino-maduro se foi e não levou nada: nem os sonhos, nem o riso, nem os brinquedos, nem a fome, nem a sede, nem as alegrias, nem o amor, nem as histórias, nem as lembranças... Só muito mais tarde a menina entendeu que o menino-maduro apareceu em sua vida apenas para acrescentar mas não para subtrair. E ele deixou para sempre seus olhos claros com ela..."
Saudades!

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