segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Os crimes dos corcundas


Para compreendermos o homem e suas necessidades, para o conhecermos naquilo que ele tem de essencial, não precisamos pôr em confronto as evidências das nossas verdades. Sim, têm razão. Têm todos razão. A lógica demonstra tudo. Tem razão aquele que rejeita que todas as desgraças do mundo recaiam sobre os corcundas. Se declararmos guerra aos corcundas, aprenderemos rapidamente a exaltar-nos. Vingaremos os crimes dos corcundas. E, sem dúvida, também os corcundas cometem crimes. 
A fim de tentarmos separar este essencial, é necessário esquecermos por um instante as divisões que, uma vez admitidas, implicam todo um Corão de verdades inabaláveis e o inerente fanatismo. Podemos classificar os homens em homens de direita e em homens de esquerda, em corcundas e não corcundas, em fascistas e em democratas, e estas distinções são incontestáveis. 
Mas sabem que a verdade é aquilo que simplifica o mundo, e não aquilo que cria o caos. A verdade é a linguagem que desencadeia o universal.
Newton não «descobriu» uma lei há muito disfarçada de solução de enigma, Newton efetuou uma operação criativa. Instituiu uma linguagem de homem capaz de exprimir, simultaneamente, a queda da maçã num prado ou a ascensão do sol. A verdade não é o que se demonstra, mas o que se simplifica. De que serve discutir as ideologias? Se todas se demonstram, também todas se opõem. 

Bonjour!


Saint-Exupéry

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