quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O Invisível

“Há que fazer uma distinção entre morrer e a morte. Nem tudo é morrer ininterruptamente. Se somos saudáveis e nos sentimos bem, vamos morrendo invisivelmente. O fim, que é uma certeza, não tem que ser arrojadamente anunciado. Não, não podemos compreender. A única coisa que compreendemos acerca dos velhos, quando não somos velhos, é que foram marcados pelo seu tempo. Mas compreender apenas isso, imobiliza-os no seu tempo, o que equivale a não compreender nada. 
Para aqueles que ainda não são velhos, ser velho significa que já fomos. Mas ser velho também significa que apesar de, além de e para lá do nosso estado de ser, ainda somos. O nosso estado de ser está muito vivo. Ainda somos e sentimo-nos tão atormentados pelo ainda-ser e pela sua plenitude como pelo já-ter-sido e pela sua qualidade de passado.
Pensem na velhice do seguinte modo: o fato de a nossa vida estar em risco é apenas um fato quotidiano. Não podemos esquivar-nos ao conhecimento daquilo que em breve nos espera. O silêncio que nos envolverá para sempre. Tirando isso, é tudo a mesma coisa. Tirando isso, somos imortais enquanto vivermos.”
[Philip Roth, O Animal Moribundo, pg. 38]

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