quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Chá de flores

[Pintura de Ann Hardy]
Derramo chá na soleira da velha porta que range as mesmas manhãs.
Não ouço o ruído dos meus passos nas tábuas e decresço 
dentro de chinelos e axiomas.
Sento-me tão pensativa que permaneço suspensa na cozinha,
como a própria terra.
Sobre a mesa o bolo interrompe peso e gravidade 
com aroma repetido de consenso e milho.
Como um vaso de madresilvas, furado no fundo a escoar a água contida, tomo chá de flores múltiplas até que escoem, também,
as minhas agonias.
Brotam cabeças sobrepostas em meus pomares e rastejam sentimentos que se alastram, como trepadeiras, até o topo dos telhados.
Onde a memória rumina a plena integridade do fruto, 
que os pensamentos, tristemente, 
apodrecem!
*

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