Uma ideia que nos semeiem pode germinar e por isso é necessário sempre que as semeiem. A sua fertilidade não está na nossa mão ou na estrita qualidade da ideia semeada, porque o que somos profundamente só se altera quando o que somos o quer - e não quando nós o deliberamos. Assim nasce um desencontro entre a mecânica dos nossos raciocínios e a verdade que em nós já é morta. No hábito dos gestos, as mãos tecem a plausibilidade do que, em nós, já não é plausível... Então, nos é necessário substituirmos toda a aparelhagem de que nos servíamos e que já não nos serve. Só assim entenderemos que da «discussão» quase nunca nasça a «luz», porque a luz que nascer é de duas pedras que se chocam. Surpresos olhamos 'quem fomos' porque já não nos reconhecemos. Atónitos, nos perguntamos: como foi possível?, quando, onde, porquê?, ao espanto da nossa transfiguração, que nós próprios nos armamos, e mesmo quando foi a vida que nos armou; porque tudo quanto é da vida, e dos outros, e dos mil acontecimentos que quisermos, só existe eficaz e realmente quando atinge a profundidade de nós. Como aceitar assim a força da razão, se a força dela está onde ela não está?
Uma verdade só o é quando sentida, não apenas "entendida"...
Bonjour!
[Vergílio Ferreira, in 'Invocação ao Meu Corpo']
Nenhum comentário:
Postar um comentário