segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Os volúveis

"O que é a experiência? Nada. É o número dos donos que se teve. Cada amante é uma coronhada. São mais mil no conta-quilómetros. A experiência é uma coisa que amarga e atrapalha. Não é um motivo de orgulho. É uma coisa que se desculpa. A experiência é um erro repetido e re-repetido até à exaustão. Se é difícil amar um enganador, mais difícil ainda é amar um enganado. Desengane-se rapaziada. Nenhuma mulher gosta de um homem tão "experiente". O número de amantes anteriores é uma coisa que faz um bocadinho de nojo e um bocadinho de ciúme. O "pudor" que se exige às mulheres não é um conceito ultrapassado — é uma excelente idéia. Só que também se devia aplicar aos homens. O pudor valoriza. 0 sexo é uma coisa trivial. É por isso que temos de torná-lo especial. Ir para a cama com toda a gente é pouco higiénico e dispersa as energias. Os seres castos, que se reprimem e se guardam, tornam-se "tigres" quando se libertam. E só se libertam quando vale a pena. A castidade é que é "sexy". Nos homens como nas mulheres. Mas a promiscuidade tira as vontades. Uma mulher gosta de conquistar não o homem que já todas conquistaram, saquearam e pilharam, mas aquele que ninguém consegue tocar. O que é "erótico" é a resistência, a dificuldade e a raridade. Não é a "liberdade", a facilidade e a vulgaridade. Isto parece óbvio, mas é o contrário do que se faz e do que se diz. 
Porque será escandaloso dizer, numa época hippificada em que a virgindade é vergonhosa e o amor é bom por ser "livre", que as mulheres querem dos homens aquilo que os homens também querem das mulheres? 
Ser conquistador é ser conquistado. E ninguém gosta de um ser conquistado..."
[Miguel Esteves Cardoso, in 'As Minhas Aventuras na República Portuguesa"]
[Nota: Imagem premiada com o Bronze Gaudi em Barcelona/2005 Original pertencente à Colecção Berardo- Modelos: Zé Diogo e Arlinda]

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