"Há um outro EU em cada um de nós quando estamos com outras pessoas. Quando somos pequenos, os nossos pais avisam-nos disso e apertando-nos os cordões, ajeitando-nos o cabelo, vão-nos preparando para o que aí vem: " olha que tens que te portar bem, que hoje vamos ter visitas!". E posto isto, arrumávamos o quarto, fazíamos os deveres e vestíamos a nossa melhor roupa...
É impressionante a transformação das pessoas quando estão juntas e quando se separam. Mais do que isto. Falo da transformação das pessoas quando estão com pessoas de fora e quando estão conosco. É uma diferença absurda que se acentua quando nós a presenciamos. E nessas alturas, ficamos com vontade que aquelas pessoas fossem sempre assim, tão amáveis, festivas, prestativas, alegres, contadoras de histórias, solidárias, interessadas em tudo aquilo que dizemos, que fazemos, disponíveis em absoluto para o que for necessário, dispostas a tudo para melhorar o nosso dia...Quando estamos com outras pessoas, só queremos mostrar o bom que temos, como se fossemos um daqueles feirantes de microfone na lapela a vender qualidades em cima de um caminhão de caixa aberta: "Olhem como sou maravilhoso! Quem quer comprar? Olhem que engraçado que sou! Quem dá mais? Olhem quantas habilidades e competência tenho... Quem me quer??? Devíamos,na verdade, viver como se passássemos a vida a ser visitados por pessoas a quem deveríamos dar o melhor de nós, isto é, exatamente "aquelas que convivem conosco"... A idéia é revolucionária, bem sei, mas não tenho dúvidas que serei recordado por isso e todos aplaudirão à minha passagem. E assim, a partir de hoje, cada vez que alguém do nosso círculo diário chegar em casa vindo do trabalho, haverá confetes e serpentinas pelo ar, com bolinhos de bacalhau e croquetes na mesa. Haverá música, haverá vinho nos copos e a festa será tanta, que todos seguirão o nosso exemplo e todos perceberão cada festa da vizinhança...
E assim, quando a meio da tarde, percebermos que ao lado do nosso prédio, vai alí uma celebração semelhante, é quase certo que deve ter chegado o filho da escola, ou a mãe do emprego, o pai do escritório ou a melhor amiga da vizinha da frente. E assim, estranhamente, a festa só terminará quando chegarem "os outros", os que não conhecemos tão bem, os estranhos, que só conhecemos o lado bom e aparente, precisamente esses que nos visitam vez em quando, interessados em apenas conhecer essa parte!!!"
[Texto de Fernando Alvim e vídeo de Madeleine Peyroux!]
"Temos que dar o melhor de nós aos outros,
até porque não sabemos se, um dia,
eles deixam de estar conosco..."
Love's not a competition.
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