sábado, 6 de junho de 2009

Tapióca

"Existem muitas formas de se destruir uma mulher. Muitas. Uma delas consiste em dia após dia boicotar sua auto-estima, depreciá-la parte a parte, diminuí-la em tudo que sabe fazer, compará-la e menosprezá-la com frases sarcásticas e tiranas. Bombardeada, muitas vezes ela se esquece de si mesma, carente que esteja de um amor que nunca virá. Não deste homem. E vai entristecendo, silenciosamente a cada aquiescência, tecendo a teia em que ela mesma se perderá. Noutras vezes, brada alto, grita também, despeja os dejetos de sua alma estropiada, de sua auto-estima vilipendiada em ofensas que buscam responder às grosserias que a agridem no cotidiano comezinho. Assim também ela se perde. Perde-se de si mesma. Fecha-se em ostra ou descompensa!
“Você não sabe gerenciar uma casa... Você é a pior dona-de-casa que eu já vi... Sua empregada é a pior e mais incompetente com que já lidei... Você é tão boa mãe que dorme de tarde e deixa seu filho com a babá... Seu trabalho é fútil... Seu hobby é imbecil, é perda de tempo... Para que vai fazer este curso? Não adianta mesmo…Isso não vai gerar dinheiro… por que saiu de casa e não estava aqui na hora em que precisei???... Não conto nunca com você... Você nunca faz nada, quando é para mim!"
Se ela não perceber, envereda-se nesta rede de sutis ou explícitos boicotes que, inevitavelmente, a conduzirão, simplesmente, à infelicidade. E assim ela pode esquecer que os parâmetros são outros, esquecer certas delicadezas de que quem ama cuida, é parceiro, zela por ela, deseja-lhe o progresso, a ascensão, a vitória sem sair do seu lado e apoiá-la nos momentos delicados a que a vida expõe toda mulher. Este boicote, portanto, é crime. Mata em vida. Incapacita. Traumatiza. E os efeitos são perversos. Muitas vezes, incuráveis!"
[Da Alena Cairo, in "Boicote à mulher"]

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