domingo, 1 de março de 2009

A vertigem

"O homem não pode manter-se humano a esta velocidade, se viver como um autômato será aniquilado. A serenidade, uma certa lentidão, é tão inseparável da vida do homem como a sucessão das estações é inseparável das plantas, ou do nascimento das crianças.
Estamos no caminho mas não a caminhar, estamos num veículo sobre o qual nos movemos incessantemente, como uma grande jangada ou como essas cidades satélites que dizem que haverá. E ninguém anda a passo de homem, por acaso algum de nós caminha devagar? Mas a vertigem não está só no exterior, assimilá-mo-la na nossa mente que não pára de emitir imagens, como se também fizesse zapping; talvez a aceleração tenha chegado ao coração que já lateja num compasso de "urgência" para que tudo passe rapidamente e não permaneça. Este destino comum é a grande oportunidade, mas quem se atreve a saltar para fora? Já nem sequer sabemos rezar porque perdemos o silêncio e também o grito." [Ernesto Sábato, in "Resistir"] "Ninguém pode encarar-se a si próprio e ver-se até ao fundo. A tua meticulosidade é de ferro, a tua meticulosidade está de tal maneira entranhada no teu ser que sem ela não existes. Pois até a tua meticulosidade se há-de dissolver! E tu sem o hábito não existes, nem tu sem o dever, nem tu sem a consciência. 
Sem estas palavras a vida não existe para ti, e sem escrúpulos, que te resta? 
O que aí está é temeroso, seres estranhos, seres que, se dão mais um passo, nem eu nem tu podemos encarar com eles. Andam aqui interesses - e outra coisa. Com mil palavras diversas e ignóbeis, mil bocas que te empurram para a infâmia - e outra coisa. 
Tens de confessá-lo. Não é a consciência - não é o remorso - não é o medo. É uma coisa inexplicável e imensa, profunda e imensa, que assiste a este espectáculo sem dizer palavra - e espera... És imundo, és a vida..." [Raul Brandão, in "Húmus"]
Bonjour!

2 comentários:

Guilherme disse...

Bonsoir! Com um ramo de frésias for you ;)

Foquinha! disse...

Que honra... as frésias constituem cerca de 20 plantas originárias da África do Sul, são muito fáceis de florir e de ter em Portugal, onde florescem no final do inverno em múltiplas cores... e que agora, para surpresa minha, florescem também em mim! Obrigada Gui!

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